Provocando a natureza


TRINK reabre na quarentena antiCOVID numa despedida antes de se tornar… surpresa!
Façamos, neste ritual de passagem, reflexões movidas pelo isolamento social.

O atual coronavírus, origem da doença COVID-19, é assunto mundial porque nós provocamos a natureza e ela, em resposta, o mandou para nós. O resultado é que essa humanidade, que se acha muito poderosa com toda sua tecnologia em pleno século XXI, teve que se render, rapidamente, a uma molécula de RNA. Nada além de uma molécula muito complexa envolta numa estrutura que a torna capaz de invadir células, alterar elas e se reproduzir dessa forma. Sim, uma molécula contra a humanidade. E não esqueçamos que poderia ter sido outro vírus que se reproduzisse mais rápido e que levasse a todos os infectados a morte certa em um dia. Neste caso, poderíamos já estar com um quarto da humanidade morta e, se não descobríssemos como proceder em no máximo alguns meses, completamente extinta em breve. Há alguém que ainda duvide disso?

Mas não, a natureza foi bondosa e optou em apenas parar quase totalmente a humanidade e lhe aplicar uma surra. Para isso, só usou um vírus. Uma molécula que sabe se reproduzir. O que nos cabe nessa situação, além de buscar a cura para a doença COVID-19 provocada por ele? Talvez a resposta esteja na alternativa imediata que encontramos na luta contra esta pandemia; o isolamento social. O que isso pode nos ensinar? Acredito que, ao menos, temos que refletir sobre nós mesmos e a humanidade, especialmente a respeito de nossas intenções e planos com foco no que não está dando certo. Vamos abordar poucos e importantes temas para essa reflexão.

A humanidade, como um todo, tornou-se suicida. A forma como ela usa os recursos da Terra e produz lixo e os mais diversos tipos de poluição a levará, inevitavelmente, a um doloroso e iminente colapso. Isso sem considerarmos os problemas sociais num mundo com tanta exclusão, concentração de riquezas, diferenças sociais, escravização, fome e uma série de outras enfermidades. Se considerarmos apenas a questão da biosfera, e nossa forma de tratá-la em larga escala, fica claro que estamos em xeque. É necessário entender que o poder e a tecnologia de toda a humanidade não é páreo, nem remotamente, contra a natureza em uma batalha. Ela vencerá sempre e ainda tem o longo tempo a seu favor. Contextualizando, nos últimos quinhentos anos de acelerado crescimento demográfico e tecnológico chegamos à beira do precipício e esse tempo, para ela, é quase nada.

Estamos mal. Julgamos a natureza como algo externo que podemos usar para nosso deleite sem entender que nós somos parte dela e só estamos aqui por causa de sua totalidade. Por causa disso, estamos diante de um vírus que nos paralisou e colocou em isolamento social. Esse é o quadro. A partir dele, sozinhos em casa ou acompanhados apenas pelas nossas famílias e perto dos vizinhos, é hora de entendermos que, se não estivermos equilibrados pessoalmente e com os próximos, não teremos como construir uma humanidade saudável. Hora de olharmos para nós mesmos. Hora de olharmos para nossas verdadeiras necessidades e das pessoas próximas. Hora de cuidarmos a nós e aos outros. Hora de tratarmos com respeito a natureza.

Aqui no Brasil – e no resto do mundo – estamos em quarentena porque alguns chineses desrespeitaram a natureza do outro lado do mundo. Eles acharam que não teria problema algum em pegar vários animais selvagens e juntarem-nos, mesmo sabendo que isso não aconteceria no seu ambiente natural, empilhando-os vivos e muito próximos para serem vendidos. Um vírus foi produzido, mesmo que em momento anterior a esse, e ali foi liberado para chegar até o ser humano. Ele deu a volta ao mundo, graças as inúmeras viagens que fazemos – mas creio que o faria por seus próprios meios caso fosse necessário –, e nos colocou presos em casa. Ele fez isso em escala mundial, já matou muitos e matará mais. Uma única afronta à natureza produziu esse resultado.

O que esse vírus quer nos dizer? Do que necessitamos realmente? É seguro alterar a natureza considerando apenas nossas formas pessoais e abstratas de valorizar as coisas? Sim, abstratas, pois a natureza, e as leis que a regem, é o que realmente existe e nos dá a vida e não as teorias econômicas que seguimos. Essas teorias todas sucumbirão, no máximo, com a humanidade. E a natureza continuará intacta para a(s) próxima(s) humanidade(s) – ou outras formas de vida talvez mais evoluídas. Percebo, esperançoso, que muitos estão se questionando isso e muitos já estão agindo de forma a reequilibrarem suas necessidades e de ajudarem a humanidade a dar passos mais conscientes daqui em diante. Mas, outros tantos, ainda creem em falsos mitos.

Em termos de necessidades, minha visão é que precisamos de ar, água, comida, amor e condições para o crescimento pessoal de cada indivíduo para construirmos o que nossa criatividade permite. Tudo isso sempre respeitando a natureza. E que nunca devemos esquecer que, seja o que for que fizermos e por mais prepotentes que nos sintamos, tudo está de acordo com o que as leis que regem a natureza nos permitem, inclusive atacá-la. Os ataques serão prejuízos para nós e para os outros seres, tudo no seu devido tempo. Por exemplo, imagine um ataque contra a lei da natureza que nos impõe a respiração. Sim, imagine se alguns revoltosos decidirem criar o movimento dos que não respiram mais. É possível, com ajuda externa, por poucos – bem poucos – minutos. O preço é cobrado logo e custa a própria vida do revoltoso. Nesse ponto, a natureza não nos permite nem mesmo imaginar essa possibilidade, muito menos enfrentá-la. Pois bem, todos os outros enfrentamentos contra suas leis, mais cedo ou mais tarde, cobram seu preço da mesma forma.

O coronavírus está nos dizendo “Acordem enquanto ainda podem!”. Torço para que consigamos seguir o conselho dele, mas confesso que, as vezes, torço pelo coronavírus. Olhando de fora seria como dizer que essa humanidade já teve seu tempo e não entendeu. “Chega! Vamos limpar tudo e dar lugar para a próxima”. Eis um tipo de sentimento, que sei que habita muitos, que é outro diante do qual devemos nos reposicionar. Ou não. Seja como for, inevitavelmente as consequências acontecerão, mais cedo ou mais tarde. A Natureza é justíssima. E ninguém escapa. Ninguém.

Sobre Luciano Pillar

Brasileiro de Porto Alegre, RS. Segundo um leitor: "Capaz de despertar as pessoas através das letras, mesclando temáticas improváveis e fazendo-as chegar a conclusões maravilhosas". Veja mais aqui.
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