Crise Econômica ou Crise de Visão?

Estamos vivendo uma crise mundial no mercado financeiro e parece que todos queremos resolvê-la. Isso é o que tenho ouvido falar. Opiniões e informações técnicas sobre economia não faltam, mas tanta sabedoria financeira não nos impediu de entrar na crise e nem está apontando uma saída que não seja os governos (o povo) pagarem a conta. Países que se autodenominam do 1º mundo estão sem saber o que fazer.

Existe solução para esta ou outras crises econômicas? Não.

Como não? Ora, é simples. Nosso sistema financeiro está errado na sua base na medida em que propõe atribuir valores monetários a tudo. Este modelo não é real e não representa nosso mundo, nossa natureza e nossas necessidades. Como conseqüência, as sociedades que baseiam suas decisões e ações num sistema falho jamais terão suas reais necessidades satisfeitas para todos seus participantes. Toda sociedade que vive sob o jugo de nosso atual sistema econômico estará sempre em estado de desequilíbrio, o que resulta em inevitáveis e periódicas crises até a derrocada e falência final.

Loucura! Só um ignorante poderia dizer isso. Pode ser. Mas é fato que os economistas tem uma visão bastante restrita da realidade, pois não conseguem ver nada além de um mundo regido pelo sistema econômico. Note que, assim como os economistas, estes que comandam e os que são donos do que chamamos de capital financeiro, acreditam que a realidade se adapta a este artificial, falho, extremamente limitado e irrisoriamente simples sistema.

Confesso, sou ignorante em macroeconomia e, nessa condição, apenas posso dizer a todos os grandes economistas, acionistas e governantes o seguinte: vocês me decepcionam. Sim, eu sei que o assunto é complexo demais para minha pequena sabedoria. Tudo bem, reformulo minha opinião: vocês me decepcionam. Vocês são uns incompetentes.

Agora eu, daqui de minha confessada ignorância econômica, darei minha humilde opinião aos doutores que nos levaram a isso e que agora não sabem o que fazer. Pois é, tanto conhecimento para não saber o que fazer. Não saber como tirar o mundo de uma enrascada provocada justamente pelas criações desta gente que se julga tão sábia. Tudo o que conseguem imaginar são maneiras de tirar dinheiro dos governos (do povo) para tapar os buracos deste sistema macroeconômico que não funciona.

Esqueçamos a economia e vamos pensar em coisas bem maiores, complexas e, principalmente, reais. Pensemos no que é o universo que nos cerca e no que somos nós. Isto é real. O sistema econômico surgiu muito recentemente e muito em breve, no curso da história, será extinto para sempre.

Amigos, como só pensamos em dar valor a tudo e nosso sistema econômico é apenas uma abstração disso, pensemos sobre o valor das coisas. Podemos declarar, sem medo de errar, o seguinte.

1. O mundo em que vivemos está repleto de coisas que já estavam aqui muito antes de nós e, assim, fica claro que tais coisas não nos pertencem. De fato, o conceito de posse é falso, já que nem de nossos próprios corpos ou vida somos proprietários. Esta é a realidade. Ponto.
2. Cada uma dessas coisas possui um valor intrínseco que independe de nosso julgamento.
3. Algumas coisas do mundo que nos cerca, como o ar, a água, a comida, o calor do sol e a gravidade, entre outros, têm um valor para nós que é nossa própria vida, que delas depende. Isto é um valor real e indiscutível. Não há como uma pessoa em sã consciência supor que possamos dar valor financeiro a estes elementos da natureza. Eles não são nossos, não foram criados por nós (não temos o poder de criação) e ainda dependemos totalmente deles. Sem eles nós nem seríamos.
4. É ilusória a atribuição de valor financeiro a qualquer coisa. A realidade está acima de nossos caprichos. Nosso sistema econômico é baseado nessa premissa falsa e segue a idéia milenar de que nós, humanos, somos o centro do que devemos julgar real e válido. Tudo deve ser observado e valorizado em relação ao que julgamos ser nossas necessidades. Seguimos a visão dos antigos sofistas gregos.
5. Nós inventamos uma forma de comparar o valor de umas coisas com outras através de uma abstração que chamamos de dinheiro. Com o dinheiro julgamos poder comparar laranjas com livros, toalhas com roupas, comida com casa, salários entre diferentes profissões e, mais absurdo ainda, bens materiais com crescimento pessoal. Julgamento errado. Um exemplo? Vamos a um óbvio e claro até para um orangotango: um juiz no Brasil que ganha um salário vinte vezes superior ao dos professores aos quais ele confia a educação de seus próprios filhos.
6. Nós elaboramos um sistema econômico, de complexidade crescente desde sua concepção, para sustentar e tentar regular o uso do tal dinheiro.
7. Com o tempo, a maioria de nós passou a acreditar que esta irreal abstração financeira define o valor das coisas. Mas, bilhões de pessoas acreditando numa mentira não a transformam em verdade.
8. Com o tempo, praticamente todos os governantes, economistas e donos do capital passaram a acreditar que os sistemas econômicos que criamos são corretos e a única forma de regular nosso progresso, o funcionamento de nossas sociedades e nossas próprias vidas.
9. Surgiu a figura do acionista, do dono do capital. O acionista visa o lucro financeiro acima de tudo. Seu capital é investido em qualquer lugar do planeta e em qualquer negócio. Seu capital pode se deslocar, a qualquer momento e sem medir conseqüências, de um lugar ou negócio para outro. Os acionistas não sentem os possíveis danos à natureza e às pessoas nos lugares onde investe porque não é em sua casa e, assim, nem pode se sentir culpado. Estamos destruindo a Terra porque os donos dos recursos e dos negócios que a destroem não vivem nos lugares onde atuam. Eles não sentem diretamente as conseqüências de suas decisões.
10. Passamos a viver pelo dinheiro.
11. Como passamos a acreditar em mentiras e a viver segundo elas nos colocamos na posição de loucos. Na verdade passamos por uma epidemia de loucura e não uma crise financeira.

Nosso irreal mundo financeiro é hilário mas poderoso pois, por mais absurdo que ele seja e por mais que ele sempre nos mostre isso, continuamos vendo tudo o que existe apenas segundo sua ótica. Causa-me graça ver que todos, absolutamente TODOS os idiotas (ops, doutores, governantes, empresários, cidadãos) apenas pensem em regular os furos do sistema com leis e medidas paliativas. E com crescimento ilimitado. TODOS só pensam em crescimento. Só se fala em crescer a taxas maiores. A taxa de crescimento no ano passado foi x% e esperamos aumentar neste ano. Um imbecil possui muito mais inteligência do que a necessária para ver que isto está, incontestavelmente, errado. Qualquer sistema, por definição, mantém algum equilíbrio. Pense em seu corpo, por exemplo. Ele é um sistema que, se estivesse sempre em crescimento e não equilibrado, fatalmente encontraria sua morte. Você não existiria.

A vida na Terra está encontrando sua morte pela ação de nossos “sistemas” que só crescem. O incrível “sistema” econômico mundial riu de si próprio quando cidadãos estado-unidenses colocaram suas casas a venda por um dólar.

Amigos, nossa economia não importa. Não nascemos com o propósito de tratar dela, mas sim de viver, interagir uns com os outros e de evoluir. A economia é apenas uma forma de nos organizarmos e que será, fatalmente, corroída por aquele que tudo leva: o tempo. Nós não precisamos comparar o valor das coisas e nos colocar uns contra os outros para construirmos casas, escolas, hospitais e para distribuirmos tais bens a todos. Nós não precisamos do capitalismo para desenvolver uma civilização. O capitalismo pode ter sido uma solução melhor do que outras neste momento de nossa história, mas, como ele é baseado em abstrações de natureza falsa, não consegue subsistir naturalmente. Teremos que inventar outra forma para regular nossa produção e consumo. As medidas que forem tomadas agora, para a atual crise, apenas levarão mais adiante os problemas inerentes a este sistema até a próxima crise. Simples e certeiro.

Podemos ter um mundo sem dinheiro? Sem este sistema financeiro? Um mundo em que, mesmo assim, nos permitirá criar e construir? Sim. Alguém tem falado nisso? Ou será que, dentre aqueles que pensam estar criando soluções para sair da crise, só tem gente capaz de pensar segundo a visão de nosso sistema econômico? Entre tantos cientistas políticos, antropólogos, historiadores, escritores de ficção, professores e gente comum não haverá ninguém que ainda lembre que o mundo do capital é recente e que chegamos até ele sem ele? Não haverá ninguém capaz de pensar em alternativas realmente diferentes para nosso porvir? Dos economistas não espero nada. Eles já não tem visão para além deste seu mundo. Suas mentes reduziram-se tanto que, cegas, só vêem a realidade através desta limitada abstração econômica do mundo real.

Para terminar, vejam só que graça. O PAC. O Plano de Aceleração do Crescimento trata de ACELERAR o crescimento do Brasil. E depois de mais umas décadas seguindo esta estupenda solução para os problemas brasileiros, chegaremos onde? Veja só o que diz neste documento sobre o PAC (no dia 31/10/2008) que está aqui
http://www.fazenda.gov.br/portugues/releases/2007/r220107-PAC.pdf

Programa de Aceleração do Crescimento: PAC 2007-2010
É um Programa de Desenvolvimento que vai promover:
A aceleração do crescimento econômico;
O aumento do emprego; e
A melhoria das condições de vida da população brasileira.

As soluções propostas são, sempre, crescer e oferecer mais empregos. Pense na conseqüência disso com o passar dos séculos.